sábado, 27 de março de 2010

DOMINGO DE RAMOS

ANO C

LEITURAS BÍBLICAS

1ª LEITURAS(Is 50,4-7);2ª (Fl 2,6-11);3ª(Lc23,1-4)

É idolatria cultuar imagens?

A questão do culto das imagens é muito debatida, hoje em dia, pois há quem diga que esse culto é idolatria. Vamos estudar o assunto na presente conversa, baseando-nos em textos do Antigo e do Novo Testamento.

QUE DIZ O ANTIGO TESTAMENTO – O Livro do Êxodo (20,4) proíbe aos israelitas fabricar imagens. Pergunta-se: Por que foi proibido fabricar imagens? É sabido que os judeus viveram muitos anos entre povos idólatras e corriam o perigo de imitá-los. Entretanto, sabemos que a proibição de fabricar imagens não era absoluta. O próprio Senhor Jesus em certas ocasiões mandou confeccionar imagens para aumentar a piedade do povo de Israel. Vejamos: Em êxodo: 25,17-22, lemos que o Senhor mandou Moisés colocar dois Querubins de ouro sobre a Arca da Aliança, pois era do Propiciatório que Josué falava ao seu povo. Em 1 Sm 4,4; 2 Sm 6,2; 2 Rs 10,15; e em Sl 79,2; 98,1) está escrito que Javé está sentado sobre os Querubins. Em Nm 21,4-9 está escrito que o Senhor Deus mandou fabricar uma serpente de bronze para curar o povo quando fosse mordido por serpentes. Em 1 Rs 7,28s também está escrito que no interior do palácio de Salomão havia ornamentos de imagens de leões, touros e Querubins.

QUE DIZ O NOVO TESTAMENTO – Sabemos que Jesus usava constantemente exemplos, comparações e parábolas para ser melhor compreendido pelos seus ouvintes, sobretudo, quando falava de mistérios. Os cristãos do tempo de Jesus foram assim aprendendo que os mistérios e verdades da fé pregados por Jesus eram melhor entendidos, através de imagens e símbolos, que significavam realidades sobrenaturais. Temos frisantes exemplos nos cemitérios cristãos antigos(catacumbas) decorados com diversas frases geralmente inspiradas em textos bíblicos: Noé salvo das águas do dilúvio, os três jovens na fornalha cantado. Daniel na cova
dos leões, os pães e os peixes, etc.... Sabemos ainda que um peixe ainda é o símbolo de Cristo.

INTERESSANTE. Nas igrejas, as imagens tornaram-se a Bíblia dos iletrados, daqueles que não sabiam ler ,exercendo fantástica função pedagógica de grande alcance. São Gregório de Nisa, século IV, pregava: o desenho nas paredes das igrejas fala muitas vezes melhor do que as palavras. E São João Damasceno, no século VIII ,dizia: " O que a Bíblia é para os que sabem
ler, é a imagem para os que não sabem! Finalmente, o Papa São Gregório Magno, escrevendo ao Bispo de Marselha, que mandava quebrando as imagens todas das suas igrejas,dizia-lhe: "Tu, irmão,não devias quebrar o que o que foi colocado nas igrejas não para
ser adorado, mas simplesmente para ser venerado!" Belíssima resposta deu o Papa àquele Bispo iconoclasta. E eu esclareço: Uma coisa é adorar uma imagem; e outra é aprender o que ela nos transmite. Todos saibam: O que a Bíblia é para aqueles que sabem ler, a imagem o é para os ignorantes. Sim, porque mediante as imagens eles aprendem o caminho a seguir. A imagem é o grande Livro de todos os que sabem ler e os que não sabem!

UMA GRANDE CONTROVÉRSIA. – Quem gosta de ler história deve saber que nos séculos VIII e IX houve na Igreja uma grande controvérsia em torno do uso das imagens, sugerida pelos judeus e islamita (muçulmanos), levando muitos cristãos do Oriente a negar a legitimidade das imagens. Até imperadores bizantinos tomaram parte nesta controvérsia, mais por motivos políticos do que por razões religiosas. A controvérsia foi levada ao Concílio de Nicéia II (787).

O Concílio com base nos raciocínios de grandes teólogos reafirmou a validade do culto das imagens, esclarecendo que se deve distinguir adoração (latria) de veneração (dulia). O culto de adoração somente a Deus deve ser dado; e o culto de veneração (dulia) pode ser dado aos Santos e também às imagens sagradas, pois elas representam os Santos ou o próprio Deus(Ex: O crucifixo).

CONCLUSÃO – Antes de terminar esta conversa gostaria de resumir o que os Padres Conciliares determinaram sobre as imagens para toda a Igreja: "Definimos que as veneráveis e santas imagens ,em pintura ,em mosaico de qualquer outra matéria adequada, podem e devem ser expostas nas Igrejas, nos utensílios e paramentos; nas paredes e quadros. Nas casas e nas estradas. O mesmo se faça com a imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo e com a da Santa Mãe
de Deus
e as dos Santos Anjos. É que quanto mais os fiéis as contemplarem mais firme se torna a sua fé e devoção para com eles. E não esqueçam, a Tradição Cristã sempre reconheceu reiteradamente o valor pedagógico e psicológico das imagens. Santa Teresa de Ávila,doutora da Igreja (1582) ,dizia às suas religiosas: Um meio que vos poderá ajudar a santificar-vos é terdes convosco uma imagem de vossa devoção para beijá-la e dizer-lhe: reza por mim; ajuda-me a santificar-me como tu te santificaste. Meus irmãos, não olheis para o que dizem,fazei o que a Igreja prega e recomenda.

28 de março de 2010

Côn.Pe.Domingos G.das Eiras

(Pároco emérito de Itaboraí)


 


 

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